domingo, 27 de janeiro de 2008

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O território em si compreende sempre uma multiplicidade [!]

Princípio de multiplicidade segundo Deleuze e Guattari em mil platôs- vol.:: 1

proposição #1 .: uma multiplicidade não tem sujeito nem objeto, mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude a natureza.

proposição #2;: mas acontece, justamente, que um rizoma, ou multiplicidade, não se deixa sobrecodificar, nem jamais dispõe de dimensão suplementar ao número de suas linhas, quer dizer, à multiplicidade de números ligados a estas linhas.

proposição # 3..::as multiplicidades se definem pelo fora: pela linha abstrata, linha de fuga ou de desterritorialização segundo a qual elas mudam de natureza ao se conectarem às outras.

Para entender de qual território estamos falando, propomos um reconhecimento por aproximações, por estratos. Pontua-se acerca da impossibilidade de apreendê-lo na sua complexidade/ totalidade, por isso as aproximações, o mapeamento das linhas de segmentaridade que o compõem.

O exercício de escrever e tentar revelar nesta reflexão o que compreende o [Território da Rua das Flores:: TRF] é uma variável em si mesma. Trata-se de um exercício imerso em uma série de contingências, a saber, o dia que adentramos este território, como entramos, por qual das suas múltiplas entradas, investidos de quais expectativas ,desejos, pulsões, quais organizações/ comportamentos enfrentamos, estes próprios comportamentos e organizações entendidos numa perspectiva processual ??? entre uma série de variáveis outras que não cessam de interceptar nossa leitura e tentativa de codificação (mesmo que momentânea) deste território. As organização que engendram as dimensões e grandezas deste territórios nos escapam, mas vamos em busca de aproximações.
::Por Cacá Fonseca::
Um território não existe na sua materialidade, ele existe segundo as organizações.Guattari & Rolnik – cartografias do desejo]

1º aproximação – o que vejo deste espaço [rua das flores]?

Linha de segmentaridade #1 - Arquitetura bricouler – dimensões da informalidade, dos arranjos momentâneos, dos movimentos de sobreposição e sedimentação ininterruptos de texturas, temporalidades, formas de vida, gostos, necessidades. A cidade arranja-se sob determinações “outras”, não planificadas, não racionalizadas pelo viés funcionalista/ utilitarista.
::Por Cacá Fonseca::
Fotografia: Tales Lobosco
Sua ‘poesia’ reside justamente na dimensão aleatória do resultado, sempre inesperado e intermediário.] Paola Berenstein Jacques [estética da ginga]
Fotografia: Tales Lobosco
E ainda há mais: a poesia da bricolagem lhe vêm também e, sobretudo, daquilo que ela não se limita a terminar ou executar. Ela ‘fala’ não somente com as coisas, mas também por meio das coisas: conta, por meio das escolhas feitas entre possíveis limitados, o caráter e a vida de seu autor.LÉVI-STRAUSS, citado por Paola Berenstein Jacques [estética da ginga]
Fotografia: Cacá Fonseca
Bricolar é, então, ricochetear, enviesar, ziguezaguear, contornar. Paola Berenstein Jacques [estética da ginga]
Mais uma aproximação:..: o que posso perceber no tocante às dimensões sociais, relacionais, afetivas que organizam este território?

Rua das flores, sábado 25 de novembro de 2007, na cadeira posta no limite da porta com a rua, fica Sr. Samuel o dia todo sentado vendo as idas e vindas de transeuntes, alguns desconhecidos, outros muito íntimos, cuida de um velho comércio quase desativado de propriedade de d. Isabel, em uma resposta ao cliente que chegara perguntando por durex ele deixa escapar seu motivo de estar ali, “estamos abertos só pra num fechar mesmo”; mais à frente um agrupamento de pessoas, possivelmente residentes no sobrado do reggae também sentados na rua entre o “cantina Kathy”ou bar do reggae e a casa Salvador conversando por horas e horas (eles estão ali provocados pela nossa presença, ou como Sr. Samuel, estão ali como todos os outros dias?); na casa Salvador, bar relativamente grande, diante dos outros distribuídos pela rua, faixas anunciam a tradição dos torneios de sinuca, alguns homens já no início da manhã se dividiam entre o jogo de sinuca e as freqüentes idas até a porta para verem o que se passava com Marila e Tom; na calçada em frente à loja de objetos usados acumulam-se cabeceira, estrado e pés de cama, cadeiras, fragmentos de uma centena de coisas, algumas com valor de troca muito reduzido no mercado formal; dentro de pequenas portas se abrem oficinas manuais de um marceneiro, de um serralheiro e de um barbeiro, ambientes cujas atividades são realizadas por instrumentos de trabalho sem refinamento técnico, como a solda, a navalha e a serra, neste contexto, de caráter visivelmente artesanal, secagem ao sol cronometrada pelo assunto com o vizinho.
::Por Cacá Fonseca::

Fotografia: Cacá Fonseca
Diferentes apropriações da rua das flores pelo trabalho nós e a loja 'vende tudo - velhos usados'

Fotografia: Cacá Fonseca
Olhando de dentro da marcenaria - o trabalho aqui também se apropria da rua

Fotografia: Cacá Fonseca
Dentro da loja do Sr. Samuel - algumas últimas peças a serem comercializadas

Reflexões acerca do conceito de território em Deleuze e Guatari

... o território é sinônimo de apropriação e de subjetivação [Guattari & Rolnik – cartografias do desejo]

no caso da rua das flores tem-se um território constituído pelos processos relacionados à dinâmica dos seres viventes/ ocupantes/ passantes deste espaço – definem o espaço vivido, aquilo que eles reconhecem como casa (o dono do bar do reggae, da barbearia, da marcenaria, os atravessadores que atalham seu trajeto... os que tiram o fim de semana para investirem na construção/ reforma, na loja de móveis que ... enfim centenas de acontecimentos que se repetiram na nossa observação)

...os territórios se articulam aos outros existentes [Guattari & Rolnik – cartografias do desejo]

nós, pesquisadores constituímos um grupo, mas constituímos também um território com o qual o Território da Rua das Flores [TRF] se articula...

o que nos agrupa, delimita um território?

Território de investigação em dança/ performance/ espaço urbano?
Ou um vetor de desterritorialização, todos, não só os performers pelo corpo/ movimento, mas câmeras, olhares, questões.....

Vetor de desterritorialização ao colocar nesta territorialidade (nesta série de comportamentos e investimentos já padronizados ou definidores desse modo de vida) outros padrões...

Acho que não precisamos escolher uma coisa ou outra, somos uma territorialidade e um vetor de desterritorilização da/ na rua das flores e da pesquisa em dança .

... os territórios se articulam aos fluxos cósmicos [Guattari & Rolnik – cartografias do desejo]

[TRF] está em interação com o Pelourinho, com as operações do capital, com as atividades econômicas do turismo, com os fluxos financeiros internacionais, com o movimento do cinema bahiano, com o movimento de vídeo dança, com os movimentos de minorias atuantes, com as questões mundiais acerca do trabalho, da sexualidade, da economia, das engenharias, enfim, trata-se de um movimento de articulação que tende ao infinito, não se pode precisar à quais fluxos cósmicos o [TRF] se articula, não se deve fechar as vias de conexão deste sistema aberto.
::Por Cacá Fonseca::
Fotografia: Cacá Fonseca
O 'vai e vem' das [rua das flores] diversas apropriações do espaço urbano
Fotografia: Cacá Fonseca
Marila - Tom #rua das flores#

Teoremas de desterritotialização ou proposições maquínicas: [deleuze & guattari -mil platôs/ abc]

1º teorema: jamais nos desterritorializamos sozinhos, mas no mínimo em dois termos e cada um reterritoriliza sobre o outro, nunca voltando à territorialidade primitiva ou mais antiga.
- nos desterritorializamos sobre a Rua das Flores e a Rua das Flores se desterritorializou sobre nós;-
- relação entre corpo e ambiente, modifica corpo e modifica ambiente- corpo e ambiente desterritorializam-se um sobre o outro.-

2º teorema: não há território sem vetor de saída do território e não há saída do território, ou seja, desterritorialização, sem ao mesmo tempo um esforço para se reterritorializar.
Qual o nosso vetor de saída? [O CORPO]
Como se processam nossas reterritorializações?

Então somos um grau de potência, definido por nosso poder de afetar e de ser afetado, e não sabemos o quanto podemos afetar e ser afetados, é sempre uma questão de experimentação. Não sabemos ainda o que pode o corpo, diz Espinosa. Vamos aprendendo a selecionar o que convém com o nosso corpo, o que não convém, o que com ele se compõe, o que tende a decompô-lo, o que aumenta sua força de existir, o que a diminui, o que aumenta sua potência de agir, o que a diminui, e, por conseguinte, o que resulta em alegria, ou tristeza. Peter Pál Pelbart [ELEMENTOS PARA UMA CARTOGRAFIA DA GRUPALIDADE]

sábado, 26 de janeiro de 2008

Fotografia: Cacá Fonseca
Rua das Flores
Os territórios da dança e do movimento de dança performance encontram no território da cidade dispositivos fecundos capazes de promover movimentos de desterritorialização do performer e suas criações/ construções artísticas. E numa leitura dialética, o território da cidade e suas disciplinas mais diretamente correlacionadas, o urbanismo, a arquitetura e a sociologia encontram nas experimentações artísticas dispositivos desejantes, que podem agregar outras nuances, outras sensibilidades, outras corpografias no conflitante campo de forças que compreende a investigação do espaço urbano.

Identifica-se, portanto, nestes fenômenos fronteiriços, em que disciplinas semiotizadas em esferas autônomas encontram fissuras, conexões, sobreposições, um ‘outro’ lugar de onde se pode pensar a cidade contemporânea e o corpo, enquanto potências criativas inesgotáveis.
::Por Cacá Fonseca::