quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Projeto Entreterritórios será apresentado no Fórum Internacional de Danza Contemporânea Y Artes do Movimiento

Concepts and ideas around Entreterritórios project:

Appropriation is a word that can be articulated alongside the word territory: the way I inhabit a place, make myself comfortable or not, how I act in relation to the conditions around me, and how I relate to them. Another aspect from the same concept usually mentioned is domination which invokes power structures more strongly. In both cases, social, economic, cultural and political aspects are part of the understanding of this concept.

Dance is a procedure for encountering the world. Encountering here as in touching, not only literally by the contact of the skin but all the senses, including vision. When I look at someone the act of looking is a way of touching, meeting the person.

These two philosophers, Felix Guatarri and Gilles Deleuze, have been inspiring our work. First because of the way they complexify the concept of territory, and also because they take into consideration, the circumstance around something. Territory not only as a location in space but its relational aspects, the situations created by establishing relationship.
For Deleuze (2006), touching the world is a desire for understanding and being in contact – specifically touch, with the circumstance of something.
We have been watching, in this project, the circumstance of the body-environment relationship and how it relates to the dance within the body as a possibility to help to clarify the relational logic the body carries and uses, while dancing.

Guatarri and Deleuze, engage two movements to the concept of territory: deterritoralization – a spatial and temporal dislocation that is also in the conditions of existance of a person or of a group of people, which deconstruct ways of being. Deterritorialization can be thought of in a major scale when huge groups of people are relocated from their “territories” in order to survive due to conditions such as war or drought. Here I relate more to a minor scale like the transitioning of the body to get to Salinas in Argentina, to dance or to producce a videodance: the dizziness, the stomach ache, and so on.
The other movement is reterritorialization, a processes that happens simutaneously to the deterritorialization when we are testing our own territories of understanding, of sensing and acting, of touching the world.

For me this is like the continual adjustmenting within the body that takes place while I am testing my own relational logic. As I move in relation to something, as I bring myself to an activated focus, this can suddenly bring me to a more accurate perception of what I am doing… and how. This reflects my pattern. A moment comes when I have the chance to choose a different way. Even if the difference doesn’t come… but the register of seeing something that was until now in the shadow, can prepare the body and the dance within the body to act with a new sensory-motor skill. This gives us opportunity to rearrange and reframe a proposal

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Entrevistas

Curitiba Interativa

TV Educativa/PR - Programa Enfoque, em 14 de fevereiro de 2008.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

“Qual lógica eu estou usando para o meu corpo enfrentar o mundo?”

O corpo pode ser codificado em múltiplas entidades encarnadas no mundo, nas ciências, nas artes, nas relações afetivas, cósmicas, religiosas, produtivas, econômicas, etc.

Lógica química, donde um corpo imerso num fluido salgado desidrata.

Lógica biológica, donde um corpo para adentrar um ambiente extremamente frio precisa aquecimento.

Lógica utilitarista, donde pés pisam, olhos vêem, boca alimenta.... funções normatizadas a partir da entidade organismo .Lógicas territorializadas numa conjuntura econômica/ social/ cultural objetivada e racionalizada. Até mesmo o campo das experimentações artísticas que passam pelo corpo acessam estas lógicas em nuances variadas. Algumas encontram nestas lógicas possibilidades de subversão, de questionamento, entretanto estão sempre se relacionando em gradações variadas com as mesmas. Movimentos de desterritorialização do corpo e destas lógicas podem ser engendrados por caminhos variados. Nossa questão é, nossa experimentação entre territórios pode engendrar estes movimentos? O transitar entre territórios abre caminhos para a criação de outras lógicas, diante das pulsões afetivas, térmicas, visuais, coletivas, desejantes ali emergidas? Esta questão surgiu numa conversa entre Marila e eu, nossa discussão estava em torno das emergências corporais suscitadas nesta vivência. Antes de me aventurar nestes próximos pensamentos, devo alertar que este exercício de apreender a experiência nas elaborações teóricas é um caminho escorregadio, cheio de tropeços, mas vou tatear esta possibilidade na tentativa de aprofundar as nossas explorações acerca do corpo/ território/ ajustes/ movimentos de desterritorialização- reterritorialização.

Então somos um grau de potência, definido por nosso poder de afetar e de ser afetado, e não sabemos o quanto podemos afetar e ser afetados, é sempre uma questão de experimentação. Não sabemos ainda o que pode o corpo, diz Espinosa. Vamos aprendendo a selecionar o que convém com o nosso corpo, o que não convém, o que com ele se compõe, o que tende a decompô-lo, o que aumenta sua força de existir, o que a diminui, o que aumenta sua potência de agir, o que a diminui, e, por conseguinte, o que resulta em alegria, ou tristeza.
Peter Pál Pelbart


Fotografia: Amabilis de Jesus
Olive Bieringa, Otto Ramstad e Marila Velloso, em mergulho nas piscinas salgadas de Salinas

Nas palavras da Marila, é uma quase morte, irrupção de sensações, num quase vazio, quando o olho ainda está fechado, ardido pela concentração do sal, o ouvido tampado, o estômago embrulhado, a língua sem lugar para se acertar, a pele sapecada, ardida, e o corpo todo boiando numa pulsação meio delirante, meio extasiada. Ali, na intensidade deste entorno mais direto que encobre o corpo, os olhos se abrem para a paisagem e encontram Olive e Otto numa captura cúmplice das sensibilidades emergidas daquela desterritorialização. É como se ali, naquele espaço articulado entre Otto, Olive, paisagem, céu, superfície branca contínua, câmeras, o corpo se reterritorializasse, se investisse de outras semânticas, se arremessasse para dentro do próprio território- dança acumulando outros estados- temporalidades- afetividades- conexões.
::Por Cacá Fonseca::

Fluxos comuns, o que coloca todo trajeto num mesmo território?

Fluxo#1.1111 – uma espécie de transbordamento da paisagem para as demais dimensões ali presentes (sejam elas humanas, sociais, culturais, estéticas) Na nossa leitura, a paisagem natural neste contexto é figurada por uma não velocidade, por um não movimento, é quase uma ilusão tamanha a estabilidade/ imobilidade e imponência das formações da vegetação, da topografia, do horizonte como um todo; por uma coloração árida, sentida pela respiração, pela irradiação do sol, pela textura que nossa pele vai assumindo, pelo gosto salgado e empoeirado que impregna a boca, os alimentos, os olhos; por um silêncio quase absoluto, abalado somente pela vento e pelos raros cruzamento de passantes, automóveis, ônibus. A dimensão imperativa da natureza catalisa uma tensão entre potência/ impotência humana/criativa/ construtiva no tocante à apropriação e ocupação deste território. Poucas casas dissolvidas, quase tragadas pela topografia milenar, uma monotonia no horizonte atravessado por diferentes povoados, Pucará de Volcán, Purmamarca, Pucará de Hornilhos, Huachichocana, Pucará de Tilcara. Povoados cujo arranjo no espaço e as práticas correlatas revelam as dimensões da temporalidade, donde a articulação entre passado, presente, ruínas, atualizações expõem variações do tempo hegemonicamente empreendido pelo globaritarismo/ pelo grande capital.

Fotografia: Cacá Fonseca
Purmamarca [Arquitetura camuflada na paisagem natural]


Fotografia: Cacá Fonseca
Purmamarca [Deslimites entre paisagem construída e paisagem natural]

Não se trata de uma configuração desconectada e descontaminada destas operações do capital, mas de um fenômeno que apresenta dissidências, linhas de fuga, em algumas trajetórias remetidas às determinações do capital/ mídia/ subjetividade capitalística, em outras trajetórias arremessada à especificidades nas maneiras de ser e estar no mundo.
::Por Cacá Fonseca::

Fotografia: Otto Ramstad
Entorno de Salinas grandes – imbricações entre mídia/ grande capital e povoados de tradição milenar.

Fotografia: Tom Reikdal
Montanhas de Purmamarca- possibilidades na apropriação da paisagem árida/ inóspita.

Captação:::: Olive
Outras imbricações

Entrada#1:... Percorrendo a rota n. 9 – de Jujuy à Salinas Grandes

Fotografia: Otto Ramstad
Paisagem do entorno de Purmamarca

O movimento de codificar- descodificar territórios figura esta fluidez de contornos e permite outra compreensão do território que se propõe denominar de Salinas Grandes. Observou-se um fluxo comum que opera na organização de vários povoados encontrados no percurso ente Jujuy e Salinas Grandes. É como se o território, que num primeiro momento estava circunscrito à Salinas Grandes se espraiasse por todo nosso trajeto, na medida em que se reconheciam investimentos nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos comuns, no que diz respeito às apropriações do espaço, à arquitetura, às práticas do espaço, às dimensões da temporalidade (tempo cadenciado pelos domínios da natureza) entrecortado pelas instâncias do mercado, do turismo, do capital. Enfim, um fluxo que atravessava a paisagem natural, os povoados, a salinas, e na nossa leitura, os envolvia num mesmo território. O entendimento do que configura cada território diz respeito à intimidade com que me relaciono com ele, que proximidade tenho com suas ações, práticas, apropriações, sensibilidades. Observar as especificidades de cada povoado é uma tarefa complicada, por se tratar de nossa primeira entrada neste território, e de uma relação construída em dez dias. Nestes termos, ampliaram-se os contornos e envolveu-se todo trajeto no território de Salinas Grandes. Entretanto, como nossas experimentações concentraram-se em Salinas e Purmamarca, procurou-se explorar com mais afinco suas singularidades.
::Por Cacá Fonseca::

Fotografia: Cacá Fonseca
Entorno das Salinas Grandes - Monotonia e monocromia – paisagem silenciosa, povoados pulverizados entre uma região montanhosa e desértica.
Em Salinas Grandes este transbordamento da paisagem natural fica muito evidente quando se observa algumas particularidades no tocante à organização e ocupação do espaço. O sal é o elemento central para algumas operações cotidianas deste território, como a construção de casas e mobiliários com tijolos de sal; a exploração da irradiação provocada pela superfície plana e branca; a própria exploração econômica deste mineral e a complexa rede que esta articula, entre povoados, grandes empresas, pequenos grupos de artesãos, atividade turística; a maneira de vivenciar este espaço, tendo o corpo completamente coberto para proteção contra a irradiação fulminante... enfim, uma cadeia de relações impossível de ser apreendida nesta primeira aproximação. Entretanto, um fluxo é transversal à lógica deste território, os diversos fenômenos pelos quais a paisagem natural se manifesta.
::Por Cacá Fonseca::


Fotografia: Cacá Fonseca
Salinas grandes - fogão movido à irradiação solar


Fotografia: Cacá Fonseca
Artesão escultores dos blocos de sal, no fundo casa construída com os tijolos de sal.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Algumas reflexões: corpo/ padrões/ territórios/ cartografias

Fotografia: Cacá Fonseca
Marila [experimentações em Purmamarca]

O que sinto de estranhamento deste território passa pelas sensações percebidas pelo meu corpo. Permanecer neste estranhamento, neste território pode me revelar em que medida me desterritorializo nesta vivência. Em que medida, o corpo imerso neste processo de criação em dança se desterritorializa? Acumula outras intensidades, qualidades, velocidades, temperaturas, etc?

[Acumulação, na concepção de Trisha Brown. Acumulação diferencia-se da idéia de “depósito”. A informação nova “acumulada” já altera a anterior. Não é uma acumulação do movimento em si mesmo. Cada movimento novo já altera o anterior. anotações da Gaia – aula da Helena Katz - estética urbana].

No corpo se desestabilizam os padrões constituídos por nossa vivência cotidiana, vivência esta que diz respeito ao território que constituímos, que organizamos e pelo qual somos organizados? Transitar ente territórios agencia quais possibilidades de criação no corpo? Toma-se, nesta reflexão que ato criativo é ato perceptivo e ato perceptivo é desencadeado pelos territórios com o qual nos enfrentamos.

Toma-se padrões como os atos que acionamos para responder às situações cotidianas, ordinárias, mas também atos acionados nas experimentações no campo das artes, entre elas a dança. No caso da dança [nosso campo de experimentação teórica/ artística] os padrões conformam-se por diversas variáveis, a formação técnica, a experiência pessoal de cada um, a afetividade suscitada nesta relação, as possibilidades físicas/ sensórias de cada corpo.

O processo pelo qual esta repetição se efetiva compreende aquilo que Deleuze denomina de repetição na diferença, repetição inscrita numa conjuntura que varia ao infinito. Cada vez que pisamos, por exemplo, nos deparamos com uma situação espacial, temporal, íntima, que diz respeito às minhas sensações naquele momento, se estou atrasado, de férias, com o pé machucado, etc, que terá repercussões no meu padrão de pisar mecanicamente formalizado.

Território e padrões corporais equacionam-se nesta investigação, donde o território inscreve-se no corpo e o corpo inscreve-se no território, uma espécie de cartografia recíproca. Para pensar a cidade, Paola Berenstein Jacques reflete acerca da articulação entre corpo e espaço urbano a partir do conceito de corpografias urbanas, que aciona esta idéia de cartografia recíproca, corpo e cidade enquanto instâncias imbricadas, um impregna o outro na suas possibilidades de organização.

O tempo engendra as nuances daquilo que pode ser cartografado no corpo ou no território, para que alguns fluxos de um território se inscreva no corpo é preciso que ambos permaneçam em contato, não se trata de uma simples observação, mas de um processo de desterritorialização - reterritorialização, donde os padrões corporais formalizados expandem-se, sobre estes se acumulam as emergências desta nova relação corpo – território. Não se trata de uma análise estritamente física, numa espécie de determinismo espacial- corporal, na medida em que território não significa somente a dimensão físico- geográfica de um espaço [sobre noção de território ver adiante ‘Todo território compreende uma multiplicidade’].
::Por Cacá Fonseca::

O ENTRE: como ele se efetiva?

O entre acontece quando o trânsito se efetiva, quando as imagens, as sensações, as criações suscitadas na vivência de um território se incorpora na vivência do outro.

A errância, este transitar ‘entre’ à espreita dos acontecimentos gerados pela organização de cada território provoca um estado de corpo, acúmulo de sensações, de desconforto tanto físico, quanto afetivo. A temperatura, a altitude, o sono, a comida, a irradiação do sol, a umidade, a excitação, a receptividade ou rejeição das pessoas, a comunicação que estabelecemos com estas, como nos olham e como as olhamos, as expectativas quanto a este território, nossa breve intenção de controlá-lo e trazê-lo para dentro do processo como uma dimensão mais estabilizada, as lembranças despertadas por este contato, as lembranças criadas nesta vivência, enfim uma série de variáveis que revelam o estranhamento percebido entre corpo e território, pelo estado que nosso corpo vai assumindo tanto no momento específico da criação em dança, como no decorrer de todo o processo.
::Por Cacá Fonseca::

Fotografia: Amabilis de Jesus
Salinas Grandes

Fotografia: Amabilis de Jesus
Marila – 1º dia de experimentação

Movimento#1.11:::: subida até os 4.000 metros de altitude da Rota n.9 no percurso até Salinas Grandes

As restrições foram insistentemente colocadas por amigos, atrás da porta nas cabanas onde nos hospedamos, nos sites de montanhismo pesquisados por Amabilis: muito repouso, pouco esforço físico, muito chá de coca e água. Tratava-se de um território completamente desconhecido e, portanto, desconhecíamos também as implicações de tantas diferenças no nosso corpo. Mas só nos demos conta da potência daquelas condições no corpo quando um de nós sentiu os primeiros desconfortos. Ainda no primeiro dia, após a subida até Salinas Grandes, voltei pra cabana, uma dor de cabeça quase inofensiva me colocou de repouso. Em poucas horas, a noite do grupo se transformou numa aflição generalizada. Eu não podia dormir, fechar o olho, uma pressão arrebatadora dentro da cabeça, me fazia sentir vontade de chorar, puxar o cabelo, uma espécie de loucura, de desespero, rezei, chorei, vomitei, Amabilis e Marila vieram, se aproximaram me apertaram, massagearam e depois de um tempo que não sei quantificar, mas posso precisar que depois de tomar muito chá de coca e alguns comprimidos de tilenol consegui dormi. Agora, escrevendo e lembrando das discussões com Marila, reconheço essa sensação de um quase morrer. Nessa aflição, algumas sensações, sentimentos, investimentos desestabilizaram-se completamente, algumas expectativas e ansiedades quanto ao projeto esvaziaram-se, para dar lugar a certa tranqüilidade, a certa resignação diante deste território e seus imperativos, uma espécie de tomada de consciência acerca da nossa impossibilidade de controlar o processo em que estávamos envolvidos.
::Por Cacá Fonseca::

Os contornos de mais um território - "Território Dança"

Fotografia: Cacá Fonseca
Amabilis, Olive, Otto, Tom e Marila, em TILCARA [cidade próxima às locações] no Brasil - terça feira de carnaval - lá: terça feira de "outros carnavais" nós em busca de aproximações do nosso território SALINAS GRANDES, agora 'expandido'

Um território dilata-se, expande-se e contrai-se a medida que seus contornos vão se esboçando. Estes contornos fluidos são relativos à determinada tomada de posição, tanto do ponto de vista geográfico, como social, cultural, estético, cognitivo. Então, é como se virtualmente pudéssemos conectar qualquer estrato operante no mundo a outro e definir um novo contorno e, portanto, um novo território. Neste vai e vem de contornos, ousamos envolver num mesmo território, que se efetiva enquanto virtualidade, pesquisadores e artistas articulados entre si por investigarem questões acerca do corpo e da dança, desenhando-se, portanto, neste processo de criação do projeto entreterritório, o território- dança. É importante, esclarecer que não se demarca o território dança, na perspectiva de uma totalidade, mas de um território conectado a infinitos ‘outros’ territórios- dança, basta que os contornemos por outros pontos de vista. Propõe-se, nesta perspectiva, o território –dança, em que se conjugam Marila, Olive, Otto, Tom, Amabilis e Carolina, não enquanto instâncias individuadas, mas enquanto linhas de segmentaridade, donde um se encontra no outro, Marila em Olive, Otto em Tom, enfim uma infinidade de conexões possíveis, evocadas pelas construções/ sedimentações que cada linha de segmentaridade já atravessou. Seria interessante aprofundar nestas conexões e não nas instâncias individuadas, como por exemplo, como se processaram estes encontros, o que atravessou um na vivência do outro e como a dança se insere neste emaranhado de encontros, afinidades, paixões.
::Por Cacá Fonseca::

Fotografia: Cacá Fonseca
Purmamarca [Olive, Otto e Marila] durante experimentação

Fotografia: Cacá Fonseca
Salinas Grandes - Amabilis, Otto, Miguel [nosso fiel condutor] Olive e Marila

Fotografia: Amabilis de Jesus
Salinas Grandes – Otto e Olive durante os ajustes para a filmagem.

Caminhantes e carregamento na Rua das Flores - Práticas do espaço

Fotografia: Cacá Fonseca
Práticas do espaço – quem, o que, como se pratica este espaço? As recorrências:..: os caminhantes, os carregamentos, o atalho, a rua a calçada e suas ocupações

Essa história começa ao ao rés do chão, com passos. São eles o número, mas um número que não constitui uma série. Não se pode contá-lo, porque cada uma de suas unidades é algo qualitativo: um estilo de apreensão táctil de apropriação cinésica. Sua agitação é um inumerável de singularidades. Os jogos dos passos moldam espaços. Tecem lugares. ... O ato de caminhar parece, portanto encontrar uma primeira definição como espaço de enunciação. ... Deste modo, o caminhar tanto faz a ordem espacial ser como aparecer . Mas também as desloca e inventa outras, pois as idas e vindas, as variações ou as improvisações da caminhada privilegiam, mudam ou deixam de lado elementos espaciais. [de certeau – a invenção do cotidiano]

Fotografia: Cacá Fonseca
Quase final da rua das flores - os caminhantes e seus carregamentos

Toda caminhada implica uma temporalidade, e daí sua relação com o ritmo. Um ritmo que nem sempre se escuta, mas embala, encontra seu compasso no pisar. Na rua das flores, um pisar mais cambaleante, que não tateia uma superfície prevista para o caminhar da objetividade, da linha reta. Calçadas e ruas tortuosas, enviesadas por um fazer a cidade que corresponde a outras temporalidades, necessidades, usos.

Calçadas estreitas, um caminhante a ocuparia com pouca mobilidade, não fosse ela quase plenamente tomada pelo trabalho, pelas apropriações cotidianas deste território. [sobre estas apropriações ver a seguir em ‘mais uma aproximação]’. Então os caminhantes, atravessadores diários da rua das flores, escapam para a rua e enunciam neste ato, as transformações operadas na ordem espacial profundamente atracada às ordens sociais, estéticas, afetivas, culturais deste território. Nesta oscilação de significações quanto aos modos de usar e às formas empregadas, a calçada e a rua assumem estes outros usos, que atualizam constantemente esta ordem diante das demandas daqueles que aí vivem/ trabalham/ vadiam...

‘Cria assim um descontínuo, seja efetuando triagens nos significantes da ‘língua’ espacial, seja deslocando-os pelo uso que faz deles. Vota certos lugares à inércia ou ao desaparecimento e, com outros, compõem torneios espaciais raros, acidentais ou ilegítimos. [de certeau – a invenção do cotidiano]

O corpo balanceado entre o carregar um pacote, caixas, pneus velhos, boneca; as imprecisões da rua empoçada em dias de chuva, sujas de resíduos em geral, áspera e desnivelada em função da pedra utilizada na sua construção, empoeirada por causa das peças desencaixadas, donde a terra se faz presente; as calçadas ocupadas por empilhamentos de mesas, cadeiras, caixas de som, peças de madeira, metal em processo de fabricação, lixeiras, objetos do ‘vende-se tudo’, postes de iluminação que praticamente às inviabilizam para a circulação de pedestres. São na sua maioria caminhantes que levam algo ou empurram algum carrinho de mão, formas de transportar e fazer as coisas, pessoas e mercadorias circularem enquadradas em outras lógicas, técnicas.
::Por Cacá Fonseca::