sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Caminhantes e carregamento na Rua das Flores - Práticas do espaço

Fotografia: Cacá Fonseca
Práticas do espaço – quem, o que, como se pratica este espaço? As recorrências:..: os caminhantes, os carregamentos, o atalho, a rua a calçada e suas ocupações

Essa história começa ao ao rés do chão, com passos. São eles o número, mas um número que não constitui uma série. Não se pode contá-lo, porque cada uma de suas unidades é algo qualitativo: um estilo de apreensão táctil de apropriação cinésica. Sua agitação é um inumerável de singularidades. Os jogos dos passos moldam espaços. Tecem lugares. ... O ato de caminhar parece, portanto encontrar uma primeira definição como espaço de enunciação. ... Deste modo, o caminhar tanto faz a ordem espacial ser como aparecer . Mas também as desloca e inventa outras, pois as idas e vindas, as variações ou as improvisações da caminhada privilegiam, mudam ou deixam de lado elementos espaciais. [de certeau – a invenção do cotidiano]

Fotografia: Cacá Fonseca
Quase final da rua das flores - os caminhantes e seus carregamentos

Toda caminhada implica uma temporalidade, e daí sua relação com o ritmo. Um ritmo que nem sempre se escuta, mas embala, encontra seu compasso no pisar. Na rua das flores, um pisar mais cambaleante, que não tateia uma superfície prevista para o caminhar da objetividade, da linha reta. Calçadas e ruas tortuosas, enviesadas por um fazer a cidade que corresponde a outras temporalidades, necessidades, usos.

Calçadas estreitas, um caminhante a ocuparia com pouca mobilidade, não fosse ela quase plenamente tomada pelo trabalho, pelas apropriações cotidianas deste território. [sobre estas apropriações ver a seguir em ‘mais uma aproximação]’. Então os caminhantes, atravessadores diários da rua das flores, escapam para a rua e enunciam neste ato, as transformações operadas na ordem espacial profundamente atracada às ordens sociais, estéticas, afetivas, culturais deste território. Nesta oscilação de significações quanto aos modos de usar e às formas empregadas, a calçada e a rua assumem estes outros usos, que atualizam constantemente esta ordem diante das demandas daqueles que aí vivem/ trabalham/ vadiam...

‘Cria assim um descontínuo, seja efetuando triagens nos significantes da ‘língua’ espacial, seja deslocando-os pelo uso que faz deles. Vota certos lugares à inércia ou ao desaparecimento e, com outros, compõem torneios espaciais raros, acidentais ou ilegítimos. [de certeau – a invenção do cotidiano]

O corpo balanceado entre o carregar um pacote, caixas, pneus velhos, boneca; as imprecisões da rua empoçada em dias de chuva, sujas de resíduos em geral, áspera e desnivelada em função da pedra utilizada na sua construção, empoeirada por causa das peças desencaixadas, donde a terra se faz presente; as calçadas ocupadas por empilhamentos de mesas, cadeiras, caixas de som, peças de madeira, metal em processo de fabricação, lixeiras, objetos do ‘vende-se tudo’, postes de iluminação que praticamente às inviabilizam para a circulação de pedestres. São na sua maioria caminhantes que levam algo ou empurram algum carrinho de mão, formas de transportar e fazer as coisas, pessoas e mercadorias circularem enquadradas em outras lógicas, técnicas.
::Por Cacá Fonseca::

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