domingo, 10 de fevereiro de 2008

“Qual lógica eu estou usando para o meu corpo enfrentar o mundo?”

O corpo pode ser codificado em múltiplas entidades encarnadas no mundo, nas ciências, nas artes, nas relações afetivas, cósmicas, religiosas, produtivas, econômicas, etc.

Lógica química, donde um corpo imerso num fluido salgado desidrata.

Lógica biológica, donde um corpo para adentrar um ambiente extremamente frio precisa aquecimento.

Lógica utilitarista, donde pés pisam, olhos vêem, boca alimenta.... funções normatizadas a partir da entidade organismo .Lógicas territorializadas numa conjuntura econômica/ social/ cultural objetivada e racionalizada. Até mesmo o campo das experimentações artísticas que passam pelo corpo acessam estas lógicas em nuances variadas. Algumas encontram nestas lógicas possibilidades de subversão, de questionamento, entretanto estão sempre se relacionando em gradações variadas com as mesmas. Movimentos de desterritorialização do corpo e destas lógicas podem ser engendrados por caminhos variados. Nossa questão é, nossa experimentação entre territórios pode engendrar estes movimentos? O transitar entre territórios abre caminhos para a criação de outras lógicas, diante das pulsões afetivas, térmicas, visuais, coletivas, desejantes ali emergidas? Esta questão surgiu numa conversa entre Marila e eu, nossa discussão estava em torno das emergências corporais suscitadas nesta vivência. Antes de me aventurar nestes próximos pensamentos, devo alertar que este exercício de apreender a experiência nas elaborações teóricas é um caminho escorregadio, cheio de tropeços, mas vou tatear esta possibilidade na tentativa de aprofundar as nossas explorações acerca do corpo/ território/ ajustes/ movimentos de desterritorialização- reterritorialização.

Então somos um grau de potência, definido por nosso poder de afetar e de ser afetado, e não sabemos o quanto podemos afetar e ser afetados, é sempre uma questão de experimentação. Não sabemos ainda o que pode o corpo, diz Espinosa. Vamos aprendendo a selecionar o que convém com o nosso corpo, o que não convém, o que com ele se compõe, o que tende a decompô-lo, o que aumenta sua força de existir, o que a diminui, o que aumenta sua potência de agir, o que a diminui, e, por conseguinte, o que resulta em alegria, ou tristeza.
Peter Pál Pelbart


Fotografia: Amabilis de Jesus
Olive Bieringa, Otto Ramstad e Marila Velloso, em mergulho nas piscinas salgadas de Salinas

Nas palavras da Marila, é uma quase morte, irrupção de sensações, num quase vazio, quando o olho ainda está fechado, ardido pela concentração do sal, o ouvido tampado, o estômago embrulhado, a língua sem lugar para se acertar, a pele sapecada, ardida, e o corpo todo boiando numa pulsação meio delirante, meio extasiada. Ali, na intensidade deste entorno mais direto que encobre o corpo, os olhos se abrem para a paisagem e encontram Olive e Otto numa captura cúmplice das sensibilidades emergidas daquela desterritorialização. É como se ali, naquele espaço articulado entre Otto, Olive, paisagem, céu, superfície branca contínua, câmeras, o corpo se reterritorializasse, se investisse de outras semânticas, se arremessasse para dentro do próprio território- dança acumulando outros estados- temporalidades- afetividades- conexões.
::Por Cacá Fonseca::

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